ENTREVISTÁMOS O JOÃO PEDRO OLIM, REPÓRTER DA CNN PORTUGAL, NATURAL DO PORTO SANTO. OS PRIMEIROS PASSOS NA SUA AVENTURA JORNALÍSTICA FORAM DADOS NO ´PONTO E VÍRGULA´. HOJE PARTILHA A SUA TRAJETÓRIA E EXPERIÊNCIAS NO JORNALISMO TELEVISIVO.
Ponto e Vírgula (PV) - Em 2018, referiste que valorizavas o convívio social entre professores, alunos e funcionários. Esse espírito de comunidade influenciou o teu desenvolvimento como jornalista?
Pedro Olim (PO) - O convívio social é uma parte importante da integração numa escola, numa universidade ou numa redação. Tenho consciência de que, sem esse espírito de comunidade, não teria aprendido a forma de estar no jornalismo televisivo e tudo o que isso implica. O jornalista não pode ser uma ilha isolada.
PV - Na mesma altura, fizeste uma analogia interessante entre conhecimento e alegria. Como é que essa visão evoluiu ao longo dos anos de licenciatura e agora no teu papel de jornalista na CNN?
PO - Em 2018, estava no ensino secundário. As minhas conquistas académicas materializavam os meus conhecimentos, e isso deixava-me, naturalmente, muito alegre. Mantive essa analogia durante todo o percurso universitário. Ao fim de vários anos de estudos, o meu percurso académico evoluiu para a conquista de um lugar, de direito próprio, na redação da TVI e da CNN Portugal. Em 2024, a alegria evoluiu para um sentimento de orgulho e de realização profissional.
PV - Quais foram os teus momentos mais marcantes?
PO - Diria que o meu primeiro direto, que aconteceu na noite de 2 de abril de 2024. Tínhamos recebido a informação de que estava a acontecer uma operação policial na embaixada de Israel devido a uma ameaça de bomba. Os nervos estavam lá. A ansiedade também estava lá. Ao fim de 2 minutos de direto, recebi várias mensagens e telefonemas de felicitações.
PV – Que conselhos darias aos novos correspondentes do PV?
PO - Os jornalistas são contadores de “estórias”. Na Região, o PV é a melhor escola para desenvolvermos essa capacidade. Quando começarem a escrever as vossas “estórias”, não se esqueçam de pensar também na perspetiva dos leitores. Uma “estória” deve ser capaz de prender a atenção no momento inicial. Lembrem-se de que não há uma segunda oportunidade para a voltar a contá-la.
PV – O que é que consideras mais importante para os jovens que querem seguir carreira no jornalismo: experiência, formação académica ou outra qualidade?
PO – A formação académica e a experiência são determinantes. Em termos de importância, uma não se sobrepõe à outra. A formação académica dá-nos conceitos, ferramentas e a oportunidade de refletir sobre o jornalismo atual e os desafios que este enfrenta. Ainda assim, acho que não basta só isso. A formação académica tem de ser complementada com experiências de estágio que enriqueçam os currículos. Um jovem que tenha apenas uma licenciatura não se distingue dos outros estudantes. Além disso, acho que a formação académica nunca nos prepara totalmente para o ambiente de trabalho numa redação. Eu tive a oportunidade de estagiar em órgãos de comunicação social regionais, e posso dizer que essas experiências foram determinantes para que, mais tarde, me conseguisse adaptar facilmente a uma redação de maior dimensão. O sentido inverso também é válido. Procurar ter experiências profissionais em jornalismo sem formação académica é possível, mas a adaptabilidade torna-se mais difícil, pois faltam os conceitos básicos do jornalismo. Portanto, a formação académica e a experiência profissional são essenciais para os jovens que querem seguir carreira no jornalismo, sobretudo pela questão da adaptabilidade a um meio laboral tão exigente.
PV – Como é que achas que o papel do jornalista está a evoluir, especialmente com o aparecimento das redes sociais? Como é que os jovens podem preparar-se para essas mudanças?
PO – O aparecimento das redes sociais tornou o papel dos jornalistas mais desafiante, especialmente enquanto agentes de verificação da informação. As redes sociais deram às personalidades mediáticas a oportunidade de escapar ao escrutínio imposto pela mediação dos jornalistas. Os jornalistas têm um compromisso com a verdade, algo que essas personalidades não têm. Muitas vezes, transmitem opiniões que são interpretadas como factos. Esta realidade torna o trabalho jornalístico ainda mais necessário, e os jovens jornalistas devem estar conscientes desse contexto.
Ainda assim, o jornalismo também conseguiu tirar proveito das redes sociais. Por vezes, as primeiras informações e imagens de determinados acontecimentos chegam aos jornalistas através destas plataformas. Portanto, os jornalistas e os jovens que querem seguir esta carreira devem ver as redes sociais como uma ferramenta complementar, mas que deve ser usada com ceticismo. Todas as informações provenientes das redes sociais devem ser confirmadas por outros tipos de fontes de informação.
PV - Se pudesses voltar atrás no tempo e conversar contigo próprio quando foste nosso correspondente, o que dirias sobre os desafios e conquistas que estavam por vir?
PO - Em primeiro lugar, acho que me felicitava por ter aceitado o convite para ser correspondente do PV e sair da minha zona de conforto. Diria que ser correspondente do PV seria a primeira etapa de um caminho bem-sucedido. Acredita em ti e no teu potencial. O teu lugar está reservado.
PV – Como é que lidas com a pressão que vem do trabalho que fazes na CNN? A pressão também ensina?
PO – A pressão do fator tempo é um fenómeno visível em qualquer redação. No entanto, a realidade imposta aos jornalistas que trabalham em canais de televisão é, de facto, mais acentuada. A televisão nunca teve um meio concorrente tão instantâneo como o digital. Os novos meios tecnológicos permitiram que a informação chegasse rapidamente às redações, e os jornalistas foram obrigados a acompanhar essa tendência. Saber lidar com a pressão é um processo contínuo e nada fácil. Ao jornalista cabe esforçar-se para que a pressão não prejudique a qualidade do seu trabalho. Ainda assim, a pressão também ensina os jornalistas a identificarem de forma mais célere os elementos informativos que realmente importam ser transmitidos aos telespectadores. São ensinamentos impostos pelas circunstâncias.
PV - Qual foi a peça mais emocionante em que já trabalhaste?
PO - Está relacionada com a cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de Paris 2024. Por ser uma peça que aborda uma cerimónia marcada pela unidade internacional em torno do desporto, num momento em que vários conflitos armados marcam o quotidiano noticioso. Outro dos fatores está associado a uma dimensão cultural, nomeadamente ao regresso de Celine Dion aos palcos ao fim de 4 anos. O momento da atuação da cantora foi tão impactante que levou a um silêncio incomum na redação. Fiz questão de dar à atuação o devido destaque na “estória” que estava a construir.
PV – Existe alguma lição ou valor que tragas contigo desde o tempo em que eras estudante e que continua relevante na tua vida?
PO – Sim, há uma lição que trago sempre comigo e que vem desde o tempo em que frequentei o ensino secundário. “Para ser grande, sê inteiro: nada teu exagera ou exclui. Sê todo em cada coisa. Põe quanto és no mínimo que fazes. Assim, em cada lago a lua toda brilha, porque alta vive.” O excerto é da autoria de Ricardo Reis. Cruzei-me com esta lição durante uma aula de português, e tem sido a mais relevante na minha vida. A entrega e a dedicação serão sempre valores presentes na minha vida pessoal e profissional.