João Brás - Do cinema para o Ponto e Vírgula!

by outubro 21, 2024




O PV ESTEVE À CONVERSA COM JOÃO BRÁS, JOVEM REALIZADOR MADEIRENSE, QUE NOS FALOU DA SUA CAMINHADA NO MUNDO AUDIOVISUAL. AUTOR DO FILME 'MÃE', JOÃO PARTILHA UM POUCO DA SUA EXPERIÊNCIA E DOS DESAFIOS DESTA ÁREA.  📽


PV – Podia ter sido o teatro ou a música. Porquê o cinema?

JB – O cinema é a união, de certa forma, de todas as artes, por isso é que também é considerado a sétima arte. Tem a parte do teatro, que é a representação, e a parte do movimento, que se relaciona com a dança. Estas são as artes que mais gosto, e o cinema une-as.


PV – O que te inspirou para a longa-metragem 'Mãe'? Quais foram as tuas motivações pessoais?

JB – Foram dois anos da minha vida dedicados a este projeto. A ideia surgiu porque o meu avô faleceu com Alzheimer, e a minha avó, neste momento, está também acometida pela mesma patologia. Quis fazer este alerta, não só para chamar à atenção para as consequências que esta condição traz aos doentes, mas também pela forma como nós, enquanto cuidadores  temos de aprender a lidar com isso. As minhas motivações pessoais foram, sem dúvida, os meus avós e a maneira como a minha família aprendeu a lidar com esta realidade. Quando temos alguém na família com esta doença, temos de continuar com as nossas vidas, mas, mesmo assim, precisamos de arranjar tempo para cuidar de quem, devido à perda de capacidades mentais e físicas, se transforma quase num "bebé grande". 


PV - Qual é a principal mensagem que quiseste transmitir através deste trabalho?

JB – O  meu objetivo é que o espectador se sinta na pele do personagem e se pergunte: “O que faria  eu se estivesse nesta situação?”. Gosto de criticar o mundo em que vivemos e, de certa forma, apontar algumas injustiças sociais. O cinema tem este papel de mudar e influenciar comportamentos. É, por isso, uma ferramenta muito poderosa.


PV - Que conselhos podes deixar a jovens que querem seguir uma carreira nas artes, mas enfrentam dificuldades?

JB – O essencial é não desistir. Fazer incessantemente até sentir que está bom e, depois, perfeito. A minha primeira curta-metragem não correu bem, mas é ao fazer que se aprende. Vamos aperfeiçoando à medida que vamos criando. Quem queira destacar-se na dança terá de dançar muito até conseguir o passo ideal. No teatro, é preciso testar muitas vezes a memória para decorar textos e aperfeiçoar cada vez mais a técnica. No cinema, o processo é o mesmo: gravar várias vezes e experimentar diferentes abordagens. É uma evolução contínua.


PV - Quais são os princípios ou valores que os jovens devem cultivar para alcançar o sucesso?

JB – É preciso ter foco. É pensar: “Eu quero fazer isto, vou continuar a fazer isto, vou seguir este caminho e não vou deixar que nada me abale”. Não podemos ser os nossos próprios juízes e dizer que não conseguimos alcançar as nossas metas só porque são difíceis. Temos de acreditar no nosso potencial. Somos o futuro e precisamos de falar sobre temas importantes, alertando  a sociedade para essas realidades. O objetivo desta longa-metragem é sensibilizar para a situação dos cuidadores informais, que muitas vezes deixam de ter tempo para si próprios e para outros membros da família que também precisam de atenção.


PV - O que sentes depois de teres sido capaz de realizar a longa-metragem?

JB – Sinto que, depois de tanto trabalho e esforço, é possível realizar qualquer coisa. Foram dois anos de enorme aprendizagem, durante os quais vivi várias experiências e aprendi a lidar com os diferentes obstáculos que surgiram pelo caminho. Depois de concluir esta longa-metragem, sinto que ganhei uma bagagem muito maior e acredito que os próximos projetos serão ainda melhores.


PV – Qual foi o momento mais emotivo durante a produção de 'Mãe'?

JB – Sem dúvida, a cena em que o Mário, filho da Dolores, que sofre de Alzheimer, dança com a mãe ao som de 'Noites da Madeira', de Max, e ela se lembra da letra da música. É uma cena muito bonita, que apela ao coração.


PV - Se pudesses oferecer um Óscar às pessoas que te ajudaram a produzir e a realizar a longa-metragem   'Mãe', quem seria o vencedor?

JB – Ofereceria o Óscar à minha família, que nunca me deixou desistir do sonho de ser realizador de cinema. O meu pai deu-me a minha primeira câmara de filmar e a minha mãe sempre me incentivou a ser persistente nos meus objetivos. Sem dúvida, eles foram os meus grandes impulsionadores.


PV - O que é que a ES de Jaime Moniz te ensinou para a vida?

JB – A ES de Jaime Moniz ajudou-me a crescer intelectual e pessoalmente. Frequentei o Curso Profissional de Artes Visuais, que me deu muitas ferramentas na parte do audiovisual. Quando ingressei na Universidade de Aveiro, no curso de Novas Tecnologias da Comunicação, já tinha um bom nível de conhecimentos, talvez até mais do que teria se tivesse seguido o ensino regular. Outro aspeto importante foi a minha participação no Clube de Dança e no Clube de Teatro – Carlos Varela. A escola deu-me, sem dúvida, as ferramentas necessárias para entrar no ensino superior e chegar onde estou hoje.