Dicas sobre o Conto de Graça Alves 📖

by outubro 21, 2024


O concurso ‘Grande Ideia’ abrange oito categorias, proporcionando aos alunos uma oportunidade única de expressarem o seu talento em várias áreas do conhecimento: Conto, Poesia, Reportagem, Investigação Histórica, Fotografia, Ilustração, Vídeo e Podcast. 

Para esta 10.ª série, desafiámos um jurado em cada categoria do concurso ‘Grande Ideia’ a partilhar dicas valiosas com os participantes. Na categoria de Conto, temos a honra de contar com Graça Alves, que desempenha o papel de jurada desde 2016.

Graça Alves é autora de diversas obras literárias e co-autora de ensaios sobre literatura, memórias e estudos insulares, além de escrever histórias de vida. Os seus contos estão presentes em várias coletâneas, e os seus artigos são publicados tanto em jornais e revistas nacionais como estrangeiras. A sua experiência e paixão pela escrita prometem inspirar todos os jovens escritores que se aventuram na criação de contos.


Sobre o conto...✎

Sentamo-nos à beira da vida e olhamos. Este é o primeiro passo para se contar uma história: estarmos atentos ao mundo, às pessoas que habitam os nossos lugares, aos sons e aos silêncios que cortam as nossas ruas. Contar histórias é uma maneira de nos apropriarmos do que nos rodeia e prender o olhar de quem escreve ao olhar de quem lê. É como se se contasse um segredo. E se guardasse outros, porque quem escreve nunca conta tudo. Deixa lugar à imaginação do leitor. 

Claro que há regras – para o espaço, para o tempo, para as personagens, para o narrador. Claro que tem de ter um enredo que faça sentido e que toque o coração de quem lê. Às vezes, até há uma tese que se quer defender, uma chamada de atenção, uma denúncia, uma dor ou um riso que se quer entregar. 

Mas escrever, meus amigos, é muito mais do que isso, é termos na mão a capacidade de convidar alguém para fazer a nossa viagem, para fazer parte do nosso sonho, para nos conhecer. 

Primeiro conselho: ler muito. Ler significa conhecer outras histórias, contadas de outras maneiras. Ler significa perceber que outros fazem o nosso caminho, abrindo-nos novos horizontes. Ler significa descobrir o que os outros fizeram de bom e de mau, descobrindo, por entre esses caminhos “de experiência feitos”, o nosso. Diferente. Com novidade, de preferência. 

Depois, é permitir que a vida tome conta de nós. É termos a capacidade de a passar a limpo, para que outros se identifiquem com ela. 

Às vezes, procuramos uma história. (e há tantas à nossa volta, que nos basta estar atentos…) Faz-se um plano, desenha-se as personagens e traduz-se as vozes que moram dentro de nós. Depois, namora-se as palavras, escolhem-se aquelas que ficam melhor em cada lugar. E risca-se. E reescreve-se. 

Outras vezes, não é assim… é a história que nos leva para lugares por onde nunca pensamos ir. E aí, é preciso permitir que as personagens nos conduzam ou nos façam regressar ao fio que tecemos ao princípio. E risca-se e reescreve-se. 

É preciso deixar que as histórias cresçam em nós. É preciso dar-lhes tempo para amadurecerem, para fazerem sentido em nós, com a consciência de que quem escreve escreve-se. É preciso dedicar-lhes tempo. Como o Principezinho à Rosa. Regá-las, como se fossem plantas, trabalhar nelas com o amor de quem (se)oferece. E risca-se. E reescreve-se. 

Escrever contos é planear viagens. E convidar o leitor para as fazer connosco.

Graça Alves

Excerto publicado no 'Ponto e Vírgula', no Diário de Notícias de 22 de outubro de 2024 📰