Prof. Jordão Freitas

by julho 18, 2024

 




O professor Jordão Freitas é coordenador do PV na EBS Gonçalves Zarco desde o seu início. Deixamos aqui as suas bonitas palavras que nos encheram de orgulho:

«Gosto da terra, porque foi nela que fui moldado e nela me transformarei no nada que sou. 
Aprendi desde muito novo que na terra está o berço que faz crescer as plantas, que antes foram sementes. Aos três anos já o meu avô me dera como instrumento e brinquedo uma pequena enxadinha. Lembro de acompanhar os meus pais e avós nas tarefas agrícolas: na sementeira do trigo, na colheita das semilhas, na apanha das maçarocas, do feijão, na ceifa com seus cantares mouriscos, nas vindimas de setembro, no abanar dos castanheiros em finais de outubro. Eram outros afazeres numa Madeira rural, onde as estradas ainda eram em terra, quando as havia; a luz elétrica só chegou em inícios dos oitenta e os telefones eram um luxo só para alguns. Depois os raios da civilização consumista tudo iluminaram e o lixo que antes era aproveitado, começou a amontoar-se pelos cantos das estradas ou era atirado para o fundo dos ribeiros. 

A terra ensinou-me a esperar e respeitar os ciclos da natureza, e cada tempo tinha o seu tempo, e cada nova colheita acontecia num tempo certo. Aprendi a esperar. E não havia stress, nem angústia. A terra ensinou-me a humildade das pequenas coisas: das ervas que cresciam, mesmo sabendo que seriam roçadas e lançadas ao gado, dos frutos que exalavam o seu perfumado desejo de serem novas plantas, mas acabavam no bucho dos pequenos, como dizia tantas vezes o meu avô, meu maior mestre. Aprendi a arte da enxertia da estacagem, da poda, da construção das latadas, do enregueirar os poios, com regos bem alinhados como uma folha pautada. Enfim, a terra foi uma escola de vida.

Hoje a terra parece ser outra e os poios de cultivo são as escolas, onde as sementes são lançadas, mas raramente ceifadas por quem as lançou. A aprendizagem tem um ciclo longo e num tempo onde não há tempo e tudo tem de ser no imediato, a colheita acaba por ser parcial, precoce e exígua. As escolas precisam cultivar projetos de tempo médio, onde os atores sejam os alunos e os monitores sejam luzes na escuridão do stress e imediatismo depressivo. É preciso dar tempo ao tempo. 

O PV é um canteiro onde os alunos podem fazer a sementeira das suas flores e antecipar já frutos futuros. Têm um espaço de espera para ver o crescer dos seus esforços que é depois recompensado. Esta é uma oportunidade à experimentação de possíveis caminhos e também reconhecimentos. O PV, ao longos dos anos em que tento ser a ponte entre a escola e a equipa de trabalho do projeto, tem deixado em mim a certeza que o semeador deve sair todos os dias a semear. O importante é deitar a semente à terra, deixá-la germinar a seu tempo, acarinhá-la, retirando as ervas e as pedras, e, depois, ao longe, deixá-la crescer num sorriso de missão cumprida.» 🌱