Uma amizade intemporal



5.º 1- Naquele ameno e ansiado domingo, 29 de setembro de 1996, há cerca de 20 anos, os inseparáveis gémeos, a Sofia e o Victor, nem queriam acreditar que frequentariam o 5.º ano de escolaridade numa nova e aconchegante escola,

6.º1- onde iriam estudar com os seus amigos. Estavam desejosos de conhecer o espaço no seu interior, pois ao longo do tempo foram vendo a sua construção. Na primeira semana conheceram novos amigos e professores fantásticos. O campo, que era muito grande, de terra batida e com vista para o mar, era o local onde se reuniam para fazer as mais variadas brincadeiras.

6.º 2- As salas eram grandes; a cantina enorme, que servia quer de espaço de refeição, quer de sala de convívio e a biblioteca estava cheia de livros novinhos em folha, dava prazer lê-los e folheá-los. A Sofia e o Victor adoravam brincar às escondidas no campo com os seus amigos.

7.º2 - Numa dessas brincadeiras incansáveis, o Victor tropeçou numa pedra solta e caiu. Quando a Sofia o viu estendido no chão, ficou aflita e correu em direção ao seu irmãozinho. A muito custo, levantou-o, sentou-o junto de uma árvore e foi chamar uma funcionária da escola. Ao seu pranto, a funcionária acorreu apressadamente, telefonando para os bombeiros. Estes chegaram num breve trecho de tempo, transportando o Victor até ao Funchal. Chegado ao hospital, o menino foi encaminhado para o médico, realizou um raio-X e concluiu-se que o seu braço estava partido. Não era muito grave, mas teria de ficar com o gesso durante trinta dias! Ao longo de todo este processo, a sua irmã gémea acompanhou-o sempre porque eram inseparáveis e, tal como partilhavam as alegrias e brincadeiras, também partilhavam as dores e tristezas.

7.º 1 - Regressado à escola no dia seguinte, foi recebido pelos colegas em alvoroço. Estes eram extremamente prestáveis: ajudavam-no a arrumar e carregar a mochila. Durante as aulas, e uma vez que partira o braço com que escrevia, cada colega, à vez, registava no seu caderno diário os apontamentos que estavam no quadro. Na hora do almoço, na cantina, todos faziam um esforço para comerem rapidamente e o ajudarem com a faca e com a fruta.
Como era uma novidade ter um colega com o braço engessado, todos os meninos da turma assinaram o gesso branquinho e fizeram lindos desenhos.
Com as atenções focadas no seu irmão, a Sofia começou a sentir-se um pouco posta de parte e triste.

8.º 2- Então, instintivamente, começou a afastar-se do grupo de amigos mais próximos com quem costumava partilhar as suas brincadeiras, no pátio. Na cantina, sentava-se, agora, numa mesa distante, observando, de soslaio, a galhofa em torno do seu gémeo. A caminho de casa, o silêncio imperava entre ambos, como se se tratassem de dois estranhos a rumar no mesmo sentido por mero acaso. Algo mudara na sua relação.
Até que Victor, estranhando o comportamento da irmã, questionou-a sobre a sua súbita mudança de atitude, para consigo e os seus colegas, limitando-se esta a responder:
– Não se passa nada! Apenas estou cansada…
Victor conhecia-a demasiado bem para acreditar naquela desculpa tão esfarrapada. No entanto, estranhamente ao que seria habitual, agradado com a popularidade que conquistara na escola, esta tristeza repentina da sua irmã passou para segundo plano e nem tentou uma aproximação.
No dia seguinte, na fila do almoço, Sofia foi abordada por uma aluna da sua turma com a qual nunca tivera a oportunidade de trocar qualquer palavra. Margarida era o seu nome. Uma rapariga tímida, demasiado magra e alta para a idade, motivo pela qual era muitas vezes alvo de chacota e isolava-se, por isso, dos restantes colegas.

8.º 1 - – Olá, Sofia! Fizeste o t.p.c. de Matemática? – perguntou-lhe, baixinho, quase ao ouvido.
– Não tive tempo. Vou aproveitar o intervalo do almoço para o fazer na biblioteca. – respondeu Sofia, com um sorriso nos lábios.
– Eu também. Podemos fazê-lo juntas, que achas?
Esta proposta agradou à gémea, que logo respondeu afirmativamente, com um abanar de cabeça. Esta foi apenas a primeira de muitas conversas entre as duas raparigas, o início de uma grande amizade, que se prolongou até aos dias de hoje.
Sentadas na esplanada do café da praia da Alagoa, recordam, agora, de forma emotiva e entre gargalhadas, as muitas aventuras que viveram juntas ao longo destas duas décadas. Até ao 9.º ano, permaneceram na mesma turma, com o desejável sucesso, apoiando-se mutuamente. Separaram-se no ensino secundário, que fizeram já noutra escola, visto que optaram por cursos diferentes e, mais tarde, na universidade, embora estudassem em cidades vizinhas, Coimbra e Aveiro.
Todavia, nunca perderam o contacto e regressaram, já “doutoras”, às suas origens. O destino quisera que assim fosse. Sofia era médica e Margarida, uma empresária bem-sucedida.
Ambas confessaram que acreditavam que a glória que obtiveram se devia, em grande parte, à escola da sua freguesia, o Porto da Cruz, onde encontraram professores que lhes incutiram, desde cedo, o gosto pelo estudo e pelo saber, bem como funcionários dedicados, todos predispostos a ajudá-los, sempre que precisassem.

9.º 1 - Durante a conversa, Margarida perguntou à amiga como estava o gémeo Victor. Sofia respondeu-lhe que ele ainda não tinha arranjado emprego, mas continuava à procura.
Com o afastamento da irmã, Victor mudara. Após ter retirado o gesso, ele perdera toda a sua popularidade, o que o fez desleixar-se e perder o 5.º ano. Conseguiu acabar o ensino básico, no entanto, foi incapaz de concluir o secundário. Desde então, está desempregado e a viver em casa dos pais. Ao ouvir isto, Margarida, que sempre simpatizara com ele, decidiu dar-lhe uma oportunidade e convidou-o para trabalhar na sua empresa de catering.
Graças a isto, os gémeos reaproximaram-se e os três amigos provaram que, apesar das adversidades, a amizade prevalece sempre.

História em Cadeia, produzida por todas as turmas dos 2.º e 3.º ciclos da Escola Básica dos 1,2,3 Ciclos do Porto da Cruz, no presente ano letivo - 2016/2017.

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