Miguel Nóbrega entrevista o escritor Domingos Amaral


MN - Gostaria de lhe perguntar como se começa a ser um escritor aceite por uma editora e com livros vendidos?

DA - Eu costumo dizer sempre que ninguém nasce escritor. Podemos é nascer com uma propensão maior para gostar de histórias. Há um dia em que decidimos escrever um livro. Comigo foi depois de vários anos a trabalhar enquanto jornalista e, pelos 29 anos, quis escrever. É o momento inicial em que a pessoa tem que escrever um manuscrito e encontrar uma editora que publique. É sempre um momento de alguma angústia mas eu tive sempre muita sorte, desde que apresentei o meu primeiro livro. Não estava escrito que eu tinha que ser escritor mas acabei por sê-lo e acho que tem corrido bem.

MN - Quais as fontes inspiradoras das suas histórias e de que maneira a obra da sua mãe o inspira?

DA - No caso dos romances históricos, a minha fonte de inspiração é ter algum fascínio especial sobre aquela época. Por alguma razão, são épocas que eu gosto especialmente e foi isso que me inspiraram a escrever livros passados nessa época. Uma coisa é sobre o que queremos escrever, mas depois é a maneira como escrevemos e aí sim, talvez haja alguma influência da minha mãe, na parte do romance, nas ligações entre as pessoas.

MN - Numa entrevista a revista Estante, falou no seu Top 10 livros. De que maneira essas obras tornam a sua obra literária a obra que é?

DA - Ás vezes é difícil perceber qual a influência que esses grandes escritores têm sobre nós. Sabemos que ficamos absolutamente deslumbrados com aquele livro. Tolstoi, Hemingway são alguns desses nomes cujos livros nos deslumbram. A questão é: o que é que disso é transformado por nós? Isso é o mais difícil. Não sei muito bem identificar o que é que em mim foi influência deles, só sei que influenciou. O mais importante num grande escritor é saber contar uma história de uma forma muito original, que possamos dizer “isto é aquele escritor”. Acho que a influência está nessa ideia da originalidade.

MN - O que lhe agrada na Literatura no século XXI em Portugal?

DA - Tem havido, nos últimos anos, muitos escritores e isso é bom. Jovens portugueses a começar, vários estilos, várias receitas. O tempo fará o seu trabalho, vendo aqueles que têm essa originalidade e aqueles que apenas são para ler num outro contexto. Gosto sobretudo do facto de ser muito ecléctico e há aí muita riqueza.

MN - É necessária a morte do escritor para que a sua obra seja reconhecida?

DA - Não é necessário mas é algo que acontece. Estou convencido que hoje em dia já há um público reconhecimento em vida. O que acontece é que muitos escritores têm uma visão futurista, o que leva a um reconhecimento póstumo.

MN - A partir de que momento deixa de ser visto enquanto filho de Freitas do Amaral e se autodetermina enquanto O escritor Domingos Amaral?

DA - Durante algum tempo eu senti essa identidade de filho de. Mas há uma altura em que isso muda, embora não saiba dizer quando. O facto de trilhar o nosso próprio caminho constrói para nós o nosso espaço, autónomo dos nossos pais. O meu trabalho valia só por si e isso foi sempre uma segurança que me fazia não me incomodar com essa definição. Essa autodeterminação foi acontecendo, foi um progresso do meu trabalho.

MN - De todos os seus livros, qual lhe deu mais gozo escrever?

DA - Há o chamado gozo inicial e o gozo final. Gozo inicial senti em todos. Gozo final, alguns dão mais que outros. Nesse sentido, refiro “Enquanto Salazar dormia” e a trilogia “Assim nasceu Portugal”.

MN - Já possui projeto de um novo romance?

DA - Sim mas ainda é muito embrionário. A verdade é que estou sempre a pensar sobre algo novo, mas neste momento, após a entrega do 3º livro da trilogia, vou aproveitar para descansar e o seguinte virá com certeza.

Miguel Nóbrega
Escola Secundária de Jaime Moniz

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